Este pequeño librito lo adquirí en una pequeña librería de una de las calles centrales de Sao Paulo en 2008. Nada más vi el autor y el título decidí de inmediato hacerme de él y nunca me arrepentiré de aquella decisión
Todas sus páginas están repletas de ternura, dulzura, compasión y esa especial reverencia y agradecimiento ante el Milagro-Misterio de la vida que tan bien expresa siempre Leonardo Boff.
Este libro es para mí una fuente de alimento espiritual enorme porque todos los temas y asuntos que trata son de una profundidad y una sencillez enormes. De hecho ha sido mi libro de cabecera durante varios años y me ha servido, no solo para conciliar el sueño, sino sobre todo para agradecer a TODO lo existente, lo que soy, lo que hago. Ni que decir tiene, que algunas de las citas que aquí recojo me siguen ayudando y emocionando muchísimo, tanto reconfortándome como creándome una tranquilidad y un sosiego interior que no puedo explicar con palabras.
En realidad no es un libro de lectura o de reflexión. Para mí es un libro de sabiduría, meditación y búsqueda en ese interior misterioso que me conecta con Todo.
Nunca me cansaré de agradecer a Leonardo Boff, a quien he tenido el privilegio de conocer, escuchar y abrazar, esta y todas sus obras, de las que soy un fervoroso seguidor.
Colección de citas
Para conviver humanamente, inventamos a economia, a política, a cultura, a ética e a religião. Mas nos últimos séculos o fizemos sob a inspiração da competição de todos com todos. Isso gerou a falta de solidariedade, o individualismo, a acumulação privada e o consumismo irresponsável. O resultado? Uma solidão aterradora e uma profunda desumanização.
Esse ciclo deve se encerrar, caso contrário ele conduzirá a Terra e a humanidade a um impasse sem retorno. O remédio está em nós: a cooperação que gera a comunidade e a participação de todos na construção de um mundo no qual todos possam caber e viver minimanente felizes.
Esta é a nova centralidade social, a nova racionalidade necessária e salvadora: o sentimento profundo de pertença, de solidariedade, de familiaridade, de hospitalidade, de cuidado e de tolerância, sentados todos à mesma mesa, desfrutando juntos a generosidade da natureza.
O que preocupa o ser humano não são os imensos espaços vazios do universo, nem o número incomensurável de estrelas, nem a variedade incontável das formas de vida. Tudo isso nos enche de admiração, mas não causa preocupação.
O que agita o ser humano são demandas do coração, onde moram as grandes emoções que fazem ora triste a passagem por esse mundo, ora trágica a existência, ora exultante a vida, ora realizadora dos mais ancestrais desejos humanos.
Como tolerar o sofrimento do inocente, como conviver com a solidão, como aceitar a própria pequenez? Para onde vamos, já que sabemos tão pouco de onde viemos e o que somos? Essas interrogações estão sempre na agenda da inquietação humana.
As visões de mundo, as filosofias, as sabedorias dos povos e as religiões nasceram do esforço e responder a essas questões com honestidade e profundo sentido de seriedade e de reverência. Temos que escutar essas respostas e fazer com que elas nos ajudem a encontrar, por nós mesmos, as nossas respostas.
São as respostas pessoais que nos fazem autónomos e maduros, corajosos ou covardes, felizes ou trágicos, esperançosos ou indiferentes, fechados ao chamado de Deus ou abertos a seus pelos.
A ética da sociedade dominante atual é utilitarista e antropocêntrica. Falsamente considera que o conjunto dos seres da natureza somente possui razão de existir na medida em que serve ao ser humano, que pode dispor deles a seu bel-prazer.
Continua acreditando que o ser humano, homem e mulher, é a coroa do processo evolutivo e o centro do universo.Mal sabe que o ser humano foi um dos últimos seres a entrar no teatro da criação.
Quando 99,98% le tudo já estava pronto, surgimos nós. O universo, a Terra e os ecossistemas não precisaram do ser humano para se organizarem e elaborarem sua majestática beleza.
Se nós entramos na evolução, foi para ser um elo a mais na cadeia da vida, um elo singular, pois temos uma missão específica: cuidar de todas as coisas, ser guardiães delas e ajudar para que continuem a existir e a evoluir como já estão evoluindo há milhões de anos.
Devemos, portanto, reconhecer e respeitar a história de cada ser da criação. Existiram antes de nós e por milhões de anos sem nós. Por isso, devem ser respeitados como respeitamos as pessoas mais idosas e as tratamos com veneração e respeito. Eles têm direito ao presente e ao futuro junto conosco.
Atualmente quase todas as sociedades estão enfermas. Produzem má qualidade de vida para os seres humanos e os demais seres da natureza. E não poderia ser diferente, pois estão assentadas sobre um tipo de compreensão do trabalho como exploração ilimitada dos recursos da natureza, sem atenção à capacidade de reprodução e de regeneração de sua integridade. E, o que é pior ainda, exploram a força de trabalho das pessoas, impedindo que expressem sua criatividade. À exceção de sociedades originárias, como aquelas dos indígenas e de outras minorias no sudeste da Ásia, na Oceania e na América, todas são reféns de um tipo de crescimento material que atende as necessidades apenas de uma parte da humanidade – os países industrializados -, deixando os demais na carência, quando não diretamente na fome e na miséria.
Somos uma espécie que se mostrou capaz de oprimir e massacrar seus próprios irmãos e irmãs da forma mais cruel e sem piedade. Só no século XX morreram em guerras, em massacres e nos campos de concentração e de extermínio cerca de 200 milhões de pessoas. E ainda construímos uma máquina de morte capaz de exterminar a humanidade e danificar profundamente a biosfera.
Como jamais antes na história, somos responsáveis pelo nosso destino. Se queremos continuar a viver, precisamos nos decidir a isso e resolutamente devemos cuidar da vida e da Casa Comum, a Terra.
O outro não é o inferno. O outro é o caminho para o céu. No fundo, tudo passa pelo outro, pois sem o diálogo com o outro, com o tu, não nasce o verdadeiro eu nem surge o nós que cria o espaço da convivência e da comunhão.
A relação com o outro suscita a responsabilidade. É a eterna pergunta de Caim, o assassino de Abel: “Sou eu responsável por meu irmão?” Sim, colocados diante do outro, de seu rosto e de suas mãos suplicantes, não podemos nos negar: temos que responder. É o que significa a palavra responsabilidade, dar uma resposta ao outro. É o outro que faz emergir a ética em nós. Ele nos obriga a uma atitude ou de acolhida ou de rejeição. É aqui que surge a questão do bem e do mal. Quer dizer, daquilo que faz bem ou daquilo que faz mal ao outro.
Um dos maiores legados éticos da tradição judaico-cristã reside neste preceito: “Ama o outro como a ti mesmo.”
Esse legado nos oferece uma das bases para a convivência possível e necessária entre todos os povos no mundo globalizado. A base deve ser mais ética que política. Uma coalizão de valores que se fundam no amor, na hospitalidade e na acolhida incondicional do outro, no respeito de sua cultura e na disposição para uma aliança duradoura com ele garantirá um planeta habitável e uma humanidade civilizada. Ou fazemos isso ou então perderemos as razões para viver juntos na mesma Casa Comum.
E aí, sim, podemos estar a um passo do pior, quem sabe, fadados ao destino dos dinossauros.
Só nós humanos podemos sentar à mesa com o amigo frustrado, colocarlhe a mão no ombro, tomar com ele um copo de vinho e trazerlhe consolação e esperança.
Nenhuma máquina, nenhum computador (nem o mais inteligente) podem fazer isso. Eles não estendem o braço e nos tocam carinhosamente nem choram com os nossos infortúnios. O ser humano, sim, porque ele tem um coração que sente a chaga do coração do outro e sabe compadecerse dele.
Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas e as situações preciosas, portadoras de valor e infinitamente adoráveis.
A relação de ternura não envolve angústia porque é livre da busca de vantagens e do espírito de conquista.
O enternecimento é a força própria do coração, é o desejo profundo de compartir caminhos e destinos.
A angústia do outro é minha angústia, seu sucesso é meu sucesso e sua salvação ou perdição é minha salvação ou perdição.Nada resiste ao olhar enternecido de uma mãe para seu bebé e à mão estendida do faminto que pede pão.
O afeto não existe sem a carícia, a ternura e o cuidado. Assim como a estrela precisa de aura para brilhar, o afeto precisa da carícia para sobreviver.
É a carícia da pele, do cabelo, das mãos e do rosto que confere concretude ao afeto e ao amor. É a qualidade da carícia que impede o afeto de ser artificial, falso ou dúbio.
A carícia essencial é leve como uma pena. Ou como um entreabrir suave de porta. Jamais há carícia na violência de arrombar portas e janelas, quer dizer, na invasão da intimidade da pessoa.
No termo de sua vida terrestre o ser humano deixa atrás de si um cadáver. É como o casulo que possibilitou o emergir irradiante da crisálida e da borboleta, agora livre no horizonte infinito de Deus.
A que está destinado o ser humano? A realizar plenamente as infindáveis possibilidades escondidas dentro de sua realidade corpo-espiritual. A plena concretização dessas sementes depositadas em seu ser se chama ressurreição.
Mas especialmente é chamado a acolher Deus dentro de si de tal forma que se torna Deus por participação, corno dizem todos os místicos cristãos.
Então não haverá mais distância, porque a criatura, continuando criatura, mergulhou definitivamente no coração do Criador.
E serão dois numa só e misteriosa Realidade.
Colocar questões fundamentais e captar a profundidade do mundo, de si mesmo e de cada coisa constitui o que se chamou de espiritualidade.
Ela se deriva de espírito. Espírito não é uma parte do ser humano. É aquele momento de nossa consciência pessoal que nos permite sentirmonos parte e parcela de um Todo que nos ultrapassa por todos os lados: o universo das coisas, das energias, das pessoas, das produções histórico-sociais e culturais.
Pelo espírito captamos o Todo, e no Todo encontramos Deus, o Grande Espírito.
A compreensão de Deus se renova em cada experiência originária que o ser humano faz.Então, Deus ganha novos nomes e seu rosto inefável recebe traços singulares como expressão de nossa veneração e de nosso fascínio.
Deus emerge cada vez que estremecemos em face do Sagrado de todas as coisas. A própria palavra Deus em sua origem sânscrita é significativa. Provém de “Dl”, que significa brilhar e iluminar. Deus é uma experiência de luz, de descoberta daquela iluminação que espanca as trevas de nossa vida e nos mostra um caminho.
De “Dl” nos vem também a palavra dia. Desejar um “bom-dia” a alguém é desejar-lhe que tenha “um bom Deus”.
Quantas não são as pessoas, mesmo anónimas, que fazem semelhante experiência de luz e assim experimentam aquilo que significa Deus?
Como vivenciar o Espírito no espírito?
Tenta sentir em ti as energias em ebulição, o desejo de vida e de comunicação, os impulsos para cima e para a frente e a capacidade de criar coisas novas. Comporta-te não como um espectador ou um gestor dessa energia vital, mas como um celebrante.
Através de tua própria vitalidade sente-te participante da Energia universal que te penetra. Une-te ao Todo. Sente-te pedra, montanha, nuvem, mar, árvore, animal, pássaro, sol, estrela e universo. Tu és um com todos eles.
Não temas! Tua singularidade não será destruída, ao contrário, será potenciada, porque te sentirás uma centelha do Fogo Universal que arde em ti e em todo o cosmos.
Cuidar do espírito significa cuidar dos valores que dão rumo à nossa caminhada e alimentar significações que enchem de sentido a nossa vida e que levaremos conosco até o fim de nossa existência.
Cuidar do espírito implica colocar os compromissos éticos acima dos interesses pessoais ou coletivos. Cuidar do espírito demanda acender a brasa interior da contemplação e da oração diuturnamente para que nunca se apague. Significa especialmente cuidar da espiritualidade, que é a capacidade de sentir Deus a partir do coração e de vê-lo nascer a cada momento no outro que está à minha frente.
A espiritualidade nos ajuda a manter a serenidade e a jovialidade diante da derradeira travessia, a morte, que nos abre as portas para o Mistério que não é aterrador, mas cheio de enternecimento e amor.
No nível da emoção imediata, pouco se me dá a imensidão dos espaços cheios de grávitons, topquarks, quarks, elétrons, átomos e poeira cósmica, se meu coração não estiver satisfeito, se perdi o sentido do amor e se não encontro um Útero que me acolha definitivamente assim como sou. Isto é, se não me sinto encontrado por Deus e se não encontro Deus.
Mas, se O encontro, tudo ganha transparência. Tudo se liga e re-liga, pois a emoção e a sensibilidade encontram suas raízes no universo e no coração de Deus. Elas emergem em nós como articuladoras de uma força de emoção tão ancestral quanto os elementos primordiais.
Então até um topquark, a porção menor que podemos encontrar de matéria, se transforma num sacramento; o universo das estrelas e das galáxias se transfigura numa dança celeste para o esponsal do amor humano e divino.
Cada vibração traduz a mensagem inefável pronunciada por cada ser, captada como uma sinfonia de mil e um instrumentos. Como nos ritos do amor e da amizade, assim no universo, cada coisa tem seu sentido, ocupa o seu lugar e está sintonizada com o ritmo da festa e da dança do encontro.
O universo inteiro se faz cúmplice da emoção, da comunicação, do êxtase que une o dentro e o fora, o mínimo e o máximo. Mas tal experiência somente é dada aos que ousam mergulhar na profundidade espiritual do universo, sentindo-se parte e parcela dele.
Vale a pena crer em Deus? Vale, e muito, porque quando cremos em Deus queremos expressar a convicção de que a morte não detém a última palavra, e sim a vida.
Quando digo “Creio em Deus”, estou querendo dizer: “Existe alguém que me envolve, que me abraça por todos os lados, que me ama, que me conhece em cada canto do meu ser, que me aceita assim como sou com todas as minhas limitações e me diz a cada momento: ‘Você é meu filho muito querido, minha filha muita querida.”
Por fim, quando digo com reverência “Creio em Deus”, abro espaço para ouvir o que Deus diz a cada momento sobre mim: “Quero que sejas, quero que vivas, quero que venhas morar comigo em minha casa.”
E então me sinto nascendo a partir do coração do próprio Deus.
Deus não responde ao porquê do sofrimento. Ele sofre junto. Deus não responde ao porquê da dor. Ele se faz homem das dores. Deus não responde ao porquê da humilhação. Ele se humilha. Já não estamos mais sós em nosso imenso desamparo.
Ele está conosco, ao nosso lado. Acabouse a solidão. Agora prevalece a comunhão. Emudece a razão. Fala apenas o coração. E o coração se aquece ao ouvir a história de um Deus que se faz criança, que choraminga e busca o seio da mãe, que não pergunta mas faz, que não responde mas vive conosco uma resposta sem palavras, cheia de luz e de sentido.
A espiritualidade acontece em nossa vida quando passamos da doutrina para a experiência, da palavra para o sentimento e da cabeça para o coração.
Dessa forma, Deus está em todo o nosso ser. Não apenas na inteligência, nem só na imaginação ou sequer no coração.
Só assim Ele é tudo em nós e tudo em todas as coisas.
Cordialidade significa aquele jeito de ser e dever que faz descobrir um coração palpitando no interior de cada coisa, de cada pedra, de cada estrela e de cada pessoa. É aquela atitude tão bem retratada pelo Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry: “Só se vê bem com o coração.”
O coração consegue ver além dos fatos, vê seu encadeamento com a totalidade, discerne significações e descobre valores.
A cordialidade supõe a capacidade de sentir o palpitar do coração do outro, alegrar-se com ele e manter leve a relação. Por isso a pessoa cordial é sempre de fino trato, presta atenção a cada sinal e sabe interpretar o significado que ele esconde.
É fácil servir diretamente a Deus; essa ação compromete apenas quem serve a Deus.
Servir o próximo em quem Deus está, isso sim nos compromete porque o próximo não é uma abstração, não vive nas nuvens nem é um fantasma da mente. É alguém situado numa realidade na qual pode haver miséria revoltante, injustiça gritante e egoísmo deslavado.
Amar o próximo pobre e doente, humilhado e explorado nos compromete porque nos obriga a mudar. Só quem ama, de verdade, um desses, ama, de fato, a Deus.
Só quem se engaja na libertação desses humilhados e ofendidos é que serve ao Senhor da história. “Quem não ama seu irmão e sua irmã, a quem vê, não é possível que ame a Deus, a quem não vê ” (l João 4: 20).
Por aí se entende a identidade que o evangelista São João estabeleceu entre o amor a Deus e o amor ao próximo (l João 4: 20).
O que faz os mestres serem mestres espirituais? Mestres como Cristo, Buda, Gandhi, Dom Hélder Câmara e Dalai-Lama são mestres espirituais porque seus caminhos de vida realizaram por excelência o sentido de todo caminho, que é de unir dois pólos distantes e complementares. Quais?
O pólo daquilo que somos e o daquilo que devemos ser; o da realidade e o do projeto; o da história e o da utopia. O caminho dos mestres ligou e aproximou esses dois pontos diferentes.
Eles foram aqueles que caminhando pela vida lograram aproximar o projeto à sua concreção histórica, anteciparam da melhor forma possível a utopia dentro da realidade. Quanto mais conseguiram realizar semelhante tarefa, mais mestres se fizeram, mais evocadores e convocadores de outros se tornaram.
Aceitando este desafio dos mestres, de caminhar com seriedade e jovialidade, acabaremos por ser mestres também – mestres de nós mesmos.
O ser humano moderno criou para si um “complexo de Deus”. Comportou-se como se fosse Deus. Através do projeto da tecnociência, pensou que tudo podia: dominar os mares, rasgar as florestas, cruzar os ares, ir até à Lua, descer até às profundezas da Terra e de lá tirar tudo o que lhe interessava.
Seguramente fez a vida muito mais cómoda, o que não significa dizer mais feliz. Ao contrário, assumiu tantas tarefas de construir, manter, fazer, refazer, projetar e continuar a inventar que, de repente, sentiu que não podia mais dar conta de tudo. Ficou assoberbado e raticamente soterrado sob o mundo que ele criou.
Com decepção e tristeza se deu conta de que não é nem pode ser “Deus”. Ele também é vulnerável, muitas vezes sente medo diante dos desafios da vida, precisa ouvir uma palavra que lhe dê força e anseia por alguém que lhe coloque a mão no ombro e não tenha vergonha de chorar com ele.
Pode haver momentos de absoluta gratidão nos quais não se pergunta nada: sabe-se que Deus aconteceu na nossa vida.
Irrompe uma harmonia, uma derradeira quietude interior, uma unidade de todas as coisas, ligadas a uma única raiz de onde vivem, existem e subsistem.
Podem acontecer momentos assim na vida.
Talvez após um longo processo catártico; após penosas crises; quem sabe, no coração de uman vida alienada e pecaminosa.
Deus pode emergir não mais como pregunta nem como resposta ao questionar irrequieto do coração. Ele se apresenta simplesmente como uma Presença suave e persistente.
O ser humano experimenta, então, a grandeza divina, infinitamente maior do que aquela do cosmos. Sente-se o sacerdote de toda a criação; agradece o fato de poder viver; dá graças e canta louvações em nome de tudo e de todos. Pode então invocar o Mistério que experimenta: “Senhor, apesar de toda a minha pequenez, posso deixar que tudo penetre em mim, posso distender-me para o mais distante do universo, posso tomar tudo em minhas mãos e oferecê-lo a Ti como numa missa cósmica, louvar-Te como o Senhor e dizer: ‘Aconteça o que acontecer com minha vida, das profundezas de meu nada e do inferno de minhas tribulações, jamais deixarei de Te louvar e eternamente Te agradecer.”
Se isso acontecer, saiba, irmão e irmã, que Deus terá irrompido em sua vida. Ele há de ser mais real do que a sua própria realidade; há de existir mais seguramente do que você mesmo existe. Revelou-se como Aquele que é absolutamente importante e que confere sentido a todo o viver.
É nessa oportunidade que você talvez faça a experiência mais gratificante da vida: sentirá a necessidade de agradecer e saberá a quem dirigir-se- a Deus.
Quem dá sentido à morte dá sentido também à vida. Quem não vê sentido na morte não vê também sentido na vida. Morte é mais que o último instante de vida. A vida mesma é mortal. Em outras palavras, ela está sempre presente no ato de viver. Assim, vamos morrendo lentamente e em prestações.
Quando nascemos, começamos já a morrer, a nos desgastar e a nos despedir da vida.Primeiro nos despedimos do ventre materno e morremos para ele. Depois nos despedimos da infância, da juventude, da escola, da casa paterna, da idade adulta, da própria profissão, de cada momento que passa e por fim nos despedimos da própria vida.
Essa despedida é um deixar para trás não apenas coisas e relações, mas sempre um pouco de nós mesmos. Temos que nos desapegar, nos empobrecer e esvaziar.
Qual o sentido de todo esse despojamento? Pura fatalidade inexorável? Ou possui um senti do secreto? Despojamo-nos de tudo, até de nós mesmos, no último momento da vida, na morte, porque não fomos feitos para este mundo, mas para algo maior.
Fomos feitos para o Grande Outro, para Deus. Quando ficamos totalmente vazios, então estamos prontos para receber Deus plenamente. E Ele virá e ocupará em nós todos os espaços e se fará um conosco.
É o Amado na amada transformado. Ó suprema felicidade, ó inefável realização. Um perdido dentro do outro num encontro que não quer conhecer fim.